Um viva a todas ...
Não há como ensinar a ser mulher, pois trata-se de um gesto, de uma atitude frente à vida. O feminino não se ensina, se exerce e, sobretudo, se compartilha. O feminino diz respeito ao acolher, ao preservar e ao perambular. Ele não tem lugar marcado, não é capturado pela cultura ou pela civilização, não reclama o protagonismo nem instaura a lei, não é sua a palavra que determina o que está certo ou errado, o que deve ser perdoado ou condenado, enfim, ele não está no palco, pelo contrário: é a trama, o tecido que sustenta a realidade da existência. (...) O mundo da eficiência econômica e matemática nos fez crer que era possível que cada um de nós se salvasse sozinho, apagando os gestos de solidariedade e compaixão.
Uma das grandes diferenças da heroína mulher em relação ao herói masculino é que o guerreiro é individualista, ele funciona em linha reta e procura sua salvação. O movimento da heroína é circular, e ela se salva com a prole, a aldeia, o grupo, a comunidade. Resgatar o gesto feminino não diz respeito somente às mulheres. É uma tarefa imprescindível para todos, no sentido de tornar nossa convivência mais suportável e menos predatória.
(...) Onde está o feminino nessas mulheres que sofrem? Ele ficou escondido, mutilado, abandonado. Exercer a feminilidade não têm nada a ver com submissão, perda da auto-estima, do respeito da dignidade. O feminino não se compra, não é um produto, não se cursa como um doutorado, não tem oscilações como o dólar, não se resolve como um projeto de lei, não se decide com uma reunião masculina no parlamento nem pode ser controlado pelas tropas da ONU. Viver o feminino diz respeito a perder o medo do abandono, da solidão e do fracasso. É ficar distante dos modelos estabelecidos que nós mulheres não escolhemos. É deixar de ser implacável e exigente com a gente mesmo. Soltar a armadura e sair da trincheira, para poder ser, para poder exercer, para poder escolher nosso destino, qualquer que ele seja.
A difícil tarefa de ser mulher é um enigma. Não há respostas nem receitas e, como todos os enigmas, marca nossa existência, traça nosso destino, determina nossas alegrias e frustrações. Somos todas sacerdotisas, decifrando o oráculo da nossa história e o grande desafio é fazer dessa criação cotidiana uma tarefa compartilhada.
( autor desconhecido)